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Educação a Distância ainda sofre preconceito

Esqueça a lousa e o giz. Professor em sala de aula? Só uma vez por semana. Assim funciona o ensino a distância, uma nova forma de aprendizagem que vem conquistando cada vez mais adeptos no Brasil.

Dados do AbraEAD/2008 (Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância), publicado pela Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância) e pelo Instituto Monitor, revelam que houve um aumento superior a 200% no número de alunos matriculados em cursos a distância em instituições regulamentadas pelo MEC (Ministério da Educação) em relação à primeira publicação, em 2004. Os estudantes passaram de 300 mil para 970 mil. Já a quantidade de entidades credenciadas ou com cursos autorizados pelo MEC aumentou cerca de 50%, passando de 166 para 255.

Esse salto revela uma tendência cada vez maior de abandonar as salas de aula e partir para o aprendizado virtual, o que apresenta algumas vantagens. Rita Maria Tarcia, membro do Conselho Fiscal da Abed, explica que um dos pontos positivos do ensino a distância é a disseminação do conhecimento e a inclusão num contexto acadêmico. No nível didático, a vantagem dessa modalidade de ensino está em utilizar recursos mais sofisticados e adequados para o processo de aprendizagem. “Eu posso usar elementos como música e simulações, o que não acontece no presencial, onde a aula é mais focada no professor. No EAD, a necessidade desses recursos enriquece a aprendizagem”, defende Rita.

Para ela, o EAD traz benefícios inclusive para o ensino presencial, que passa a encarar a aprendizagem de uma nova forma. “O ensino a distância está ‘cutucando’ o presencial, que agora começa a se mexer e olhar os recursos disponíveis. Começa-se a repensar o ensino, de uma forma mais atualizada”, aponta.

Perfil do aluno – Segundo André Genesini, pesquisador de educação, professor no Senac e associado da Abed, optar pelo ensino presencial ou pelo ensino a distância é mais uma opção de comodidade e estilo do estudante. “O ensino a distância exige um aluno que consiga gerenciar bem seu tempo e seu estudo. Se o aluno se encaixa nesse perfil, o estudo a distância é uma opção estratégica para quem trabalha em localidades distantes dos grandes centros urbanos e para quem tem uma agenda de trabalho difícil de prever”, afirma Genesini.

O gerente João Simões, 45 anos, estuda marketing a distância pela Universidade Metodista de São Paulo e uma vez por semana freqüenta o pólo de ensino em Mauá. A urgência em ter o diploma e a falta de tempo fizeram com que ele optasse pelas aulas virtuais. “Tenho uma jornada de trabalho intensa e não me vejo hoje numa sala de aula. Já trabalho e não poderia estar no cargo que ocupo hoje sem uma formação. Me dediquei muito à companhia e agora ela quer que eu estude”, explica Simões.

A falta de tempo também foi um fator importante na escolha de Daniela dos Santos, 26 anos, que estuda Recursos Humanos. “Eu trabalho, estudo, sou casada e tenho filho. Para mim, a principal vantagem do ensino a distância é a flexibilidade, porque posso estudar de acordo com os meus horários”, afirma.

Mas quem pensa que cursar EAD não demanda muito esforço se engana. “Aquela premissa que diz ‘se você não tem tempo, faça um EAD’ não é verdadeira”, explica Rita Tarcia, da Abed. Ela explica que quem estuda a distância tem de ler mais textos, fazer reflexões elaboradas e participar de fóruns virtuais, o que requer força de vontade e empenho do aluno. “A vantagem é que não existe rigor de horário, há flexibilidade. No entanto, os alunos lêem mais, fazem mais atividades, são mais pró-ativos e produtores de seu próprio conhecimento”.
Mercado de trabalho – Dados do Enade (exame do MEC que avalia o ensino superior) divulgados em 2007 revelaram que os alunos do ensino a distancia se saíram melhor do que os presenciais em sete das 13 categorias comparadas. “O que determina a qualidade de um curso, presencial ou a distância, é a qualidade do planejamento pedagógico. Existem cursos bons e ruins tanto na tradicional modalidade presencial quanto a distância”, afirma André Genesini.

Apesar dos dados positivos, o preconceito no mercado de trabalho ainda existe. “No Brasil ainda há muita desinformação quanto às reais possibilidades e os reais resultados da EAD. O MEC determina, porém, que o diploma para quem faz a universidade a distância ou presencial seja o mesmo. O que importa é a titulação, e não a forma de entrega do conteúdo”, defende Genesini.

“A legislação não prevê distinção. No entanto, alguns editais de concursos públicos restringem os egresso a distancia”, afirma Rita, que acredita que o preconceito se dá por uma razão histórica. “Como a educação tem um histórico presencial, e como tudo que é novo causa inquietação, a aceitabilidade do mercado de trabalho dos alunos de cursos a distância deve ser definida ao longo do tempo”.



Fonte: Diário do Grande ABC

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