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Educação ou ensino?


Num primeiro momento, a idéia de que pais educam e professores ensinam parece explicar facilmente a diferença conceitual entre educação e ensino, embora estes dois termos sejam usados indistintamente por alguns autores. Em sua tarefa de educar, os pais também ensinam. Já aos professores geralmente é cobrada a obrigação apenas de ensinar.


A diferença entre o ensino praticado por pais e professores reside no foco com que é realizada a ação de ensinar. Tanto pais quanto professores, porém, visam algo em comum em suas práticas: a aprendizagem. A aprendizagem, portanto, constitui o produto principal do trabalho de quem educa ou ensina.


Apesar das várias explicações elaboradas até hoje, e que constituem as teorias da aprendizagem que conhecemos, ainda não existe consenso em torno do assunto. Há teorias comportamentais e cognitivas (o conhecido "construtivismo" faz parte das cognitivas). O presente texto limita-se a abordar a aprendizagem superficialmente, apenas o suficiente para o estabelecimento das principais diferenças conceituais entre educação e ensino.


Não há necessidade de se ser profissional da área para constatar que toda vez que um indivíduo consegue fazer algo que antes não sabia fazer, houve uma aprendizagem. Uma pessoa que gostaria de operar um computador, por exemplo, como não nasceu sabendo informática, quando estiver elaborando planilhas complexas no Excel, poderá afirmar sem medo que houve aprendizagem. Não importa se alguém a ensinou, ou se ela aprendeu sozinha fuçando na máquina. O que importa é que agora ela aprendeu a operar um computador.


Como ocorreu esse processo de aprendizagem em sua mente cada pesquisador explica de uma forma, mas na verdade ninguém ainda sabe ao certo. O que toda teoria deixa claro é que a pessoa que quer aprender algo não instintivo deve passar por uma série de etapas até atingir seu objetivo. Normalmente o indivíduo observa as ações de outras pessoas, tenta fazer o mesmo sozinho, experimenta, erra algumas vezes, supera dificuldades até que, finalmente, constata que consegue fazer algo que antes não sabia fazer.


Todo processo de educação envolve a realização da aprendizagem, mas nem toda aprendizagem é necessariamente um ato de educação. A educação tem por finalidade ajudar o ser humano a viver melhor, mas existem muitas aprendizagens não-educativas que acontecem a todo instante quando se aprendem coisas desnecessárias, erradas, prejudiciais, maléficas. Um indivíduo tanto pode aprender a usar uma seringa para injetar insulina em seu corpo caso seja diabético, quanto para injetar droga se for viciado.


Ensinar envolve sérias responsabilidades. Para que a aprendizagem de um determinado assunto gere desenvolvimento satisfatório, muitos outros aspectos devem ser trabalhados simultaneamente, a fim de que junto com a assimilação de qualquer conteúdo, o indivíduo possa também desenvolver a capacidade crítica para efetuar futuramente as transferências e discernimentos necessários.


É preciso refletir constantemente sobre o papel de quem ensina, por que ensina e, principalmente, para que ensina. É na resposta ao “para que ensina” que evidencia-se a diferença entre educação e ensino. É claro que todo professor ensina visando a aprendizagem do aluno, mas o foco principal de seu trabalho está na transmissão de informações e conhecimentos (a aprendizagem será uma conseqüência). Já o foco dos pais parece incidir diretamente na aprendizagem do filho.


Os pais acompanham de perto cada fase do desenvolvimento da criança, e não medem esforços para alterar ou adaptar programas e métodos quantas vezes isto for necessário. Isto é educar. Já ao professor, que geralmente possui centenas de alunos num mesmo ano letivo, é humanamente impossível acompanhar de perto cada um deles, e ainda por cima adaptar programas e métodos individualmente.


Assim, por mais que teóricos estudiosos afirmem e queiram que o professor também eduque, humanamente lhe é possível apenas ensinar. Espera-se, entretanto, que o conteúdo ensinado cedo ou tarde seja útil para o indivíduo (o aluno) promover ou aprimorar sobretudo a sua auto-educação, pois nem pais e nem professores permanecerão a seu lado para sempre.


Segundo LANDIM (1997):
ENSINO: instrução, transmissão de conhecimentos e informações, adestramento, treinamento.


EDUCAÇÃO: prática educativa, processo de ensino e aprendizagem que leva o indivíduo a aprender a aprender, a saber pensar, criar, inovar, construir conhecimentos, participar ativamente de seu próprio crescimento. É um processo de humanização que alcança o pessoal e o estrutural, partindo da situação concreta em que se dá a ação educativa numa relação dialógica.
 
 
Referências: LANDIM, Claudia Maria Ferreira. Educação a distância: algumas considerações. Rio de Janeiro: s/n, 1997.

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